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Rendas de Bilros

A origem das Rendas de Bilros de Vila do Conde remonta ao século XVI, mas a sua génese ainda é controversa. Em todo o caso, presume-se que esta técnica tenha sido trazida do Norte da Europa por marinheiros e comerciantes, que mantinham estreitas ligações com o entreposto comercial da Flandres.

Em plena epopeia dos Descobrimentos, Vila do Conde conheceu um desenvolvimento que a marcou até aos dias de hoje. A construção naval em madeira ainda se mantém, assim como a feitura das delicadas rendas de bilros, que a tradição quer inspiradas na espuma das ondas do mar e ligadas a uma localidade piscatória.

O primeiro documento oficial onde as rendas são referidas é a Pragmática de 25 de Junho de 1560, mandada publicar por D. Sebastião para controlar os excessos de luxo. Após esta data, outras leis semelhantes foram publicadas, mas só a Pragmática de D. João V, publicada em 24 de Maio de 1749, veio colocar um travão na ostentação e no luxo da vida de corte de então.

A partir daqui, com pesadas multas para quem não respeitasse a ordenação régia, as rendas de bilros sofrem grande golpe, até que a Câmara Municipal de Vila do Conde decide contactar com outras localidades do norte, no sentido de combinarem esforços para que as rendas de bilros não fossem tão afectadas. E os seus intentos foram alcançados, graças a Joana Maria de Jesus, rendilheira vilacondense que, em representação da todo o Norte, se desloca à Corte, onde consegue ser recebida e escutada. Assim, em 1751 as proibições sobre as rendas são levantadas e as rendilheiras voltam ao trabalho com afinco redobrado, uma vez que o produto da venda das rendas era parte substancial do sustento familiar.

No final do século XVIII, as rendas eram vendidas por todas as províncias e, no século seguinte, mantêm grande projecção, tendo estado presentes na Exposição Universal de Paris, em 1867.

Com o desenvolvimento industrial e a mudança dos estilos de vida, o uso das rendas entra em declínio, perdendo em qualidade e quantidade. Nos princípios do século XX Vila do Conde tem a sua produção estagnada, e só com o surgimento das escolas de rendeiras se recupera a tradição. A Escola de Artes e Ofícios viria a ser criada em 1919, graças ao empenho do Dr. António Maria Pereira Júnior.

O documento mais antigo onde as rendilheiras são referidas é uma Acta de Sessão da Câmara de Vila do Conde, datada de 4 de Maio de 1616. Nela se escreve:

Que as rendas entrem no mester das costureiras.
E logo acordaram eles Oficiais da Câmara que porquanto nesta vila havia muitas queixas das costureiras e pessoas que pagavam para o mester da folia das moças o qual era de muito gosto e as ditas costureiras eram poucas e não podiam suprir aos ditos gastos, acordaram e assentaram que daqui por diante todas as pessoas que nesta dita vila faziam rendilhas para vender cadimemente entrem igualmente no dito mester e o tenham no ano que lhe couber sendo a tal rendilheira de qualidade que os possa ter e aquelas pessoas que forem de qualidade que não caiba nelas o dito encargo da paga como da mordomia, ficará na disposição dos Oficiais da Câmara proverem nisso como lhes parecer que convém. Paulo de Beça Coelho escrevi. E declararam eles Oficiais que não seriam constrangidas a pagar para o dito mester as mulheres e filhas dos homens nobres desta vila posto que sejam rendilheiras. Paulo de Beça Coelho o escrevi
”.